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Descoberta Inédita: Jardim Botânico do Rio Identifica nova bromélia da Mata Atlântica

© Bruno Rezende/JBRJ

A Wittmackia aurantiolilacina, com sua inflorescência de tons vibrantes laranja e lilás, é um testemunho da riqueza da biodiversidade brasileira e um alerta urgente para a necessidade de conservação em um dos biomas mais ameaçados do mundo.

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) anunciou a descrição de uma nova espécie de bromélia, a Wittmackia aurantiolilacina, um achado notável oriundo da Mata Atlântica, especificamente do Parque Nacional do Alto Cariri, na Bahia. A planta, que chama atenção por suas inflorescências de cores incomuns – mesclando tons de laranja e lilás –, foi formalmente detalhada por pesquisadores da instituição em um artigo científico publicado em novembro deste ano, e sua situação já a classifica como criticamente ameaçada de extinção, ressaltando a vulnerabilidade da flora nacional.

A descoberta é resultado direto do trabalho do pesquisador Bruno Rezende, curador da respeitada coleção científica de bromélias do JBRJ e um dos principais autores do estudo. O documento que pormenoriza a nova espécie foi divulgado em 19 de novembro no periódico Phytotaxa, reconhecido globalmente como a maior revista científica na área de taxonomia botânica – o ramo da biologia dedicado à classificação, nomeação e descrição dos organismos. O nome científico, Wittmackia aurantiolilacina, presta homenagem às tonalidades alaranjadas (auranti) e lilases (lilacina) de suas flores, características que desempenharam papel fundamental em sua identificação.

Esta nova espécie é considerada endêmica, ou seja, exclusiva da Mata Atlântica, um bioma que, apesar de sua extraordinária biodiversidade, figura entre os mais ameaçados do planeta. Sua coleta inicial ocorreu em agosto de 2023, durante uma expedição realizada pela equipe do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), uma unidade vinculada ao próprio Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A ação integrava o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Árvores Ameaçadas de Extinção do Sul da Bahia (PAN Hileia Baiana), inserido no abrangente Projeto GEF Pró-Espécies: todos contra a extinção, uma iniciativa crucial para a salvaguarda da biodiversidade brasileira.

Curiosamente, no momento da coleta original, a bromélia estava sem flores, o que a tornava “estéril” e sem levantar suspeitas de sua singularidade, conforme detalhado por Bruno Rezende. Após ser introduzida nas coleções científicas do bromeliário do JBRJ e também no Refúgio dos Gravatás, localizado em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, a planta floresceu em julho de 2024. Foi a partir dessa floração, que exibiu uma “combinação de cores muito inusitada”, que o pesquisador, com três décadas de experiência, suspeitou estar diante de algo inédito. A colaboração com um especialista no gênero permitiu um estudo aprofundado e a subsequente publicação internacional.

Embora a exuberância da inflorescência tenha sido o primeiro indicativo, Rezende enfatiza que a definição formal de uma nova espécie transcende a coloração. Um conjunto de características morfológicas, como o formato e o tamanho das sépalas e pétalas, é imprescindível para a classificação botânica precisa. As sépalas, estruturas geralmente verdes, desempenham um papel vital na proteção do botão floral antes de sua abertura.

Atualmente, o Jardim Botânico abriga apenas um vaso da recém-descoberta bromélia. A estratégia de conservação da instituição prioriza a propagação vegetativa ou clonal, um método assexuado que gera mudas geneticamente idênticas à planta-mãe. Embora a polinização possa resultar na produção de sementes e, consequentemente, em indivíduos geneticamente distintos por reprodução sexuada, a multiplicação clonal é preferida no bromeliário devido às limitações de espaço. O foco primordial é manter a saúde e robustez dos poucos exemplares existentes, formando pequenas touceiras que ofereçam maior resistência a pragas e doenças, maximizando a segurança da planta.

Apesar da beleza da Wittmackia aurantiolilacina, o pesquisador alerta para os desafios de sua conservação. No ambiente natural do Jardim Botânico, especialmente no arboreto, a espécie estaria vulnerável a predadores como os macacos-prego, que, segundo Rezende, desenvolveram um “gosto macabro” pelas bromélias, consumindo o palmito interno das folhas e levando a planta à morte. No entanto, no ambiente controlado do bromeliário, é possível manter um controle mais rigoroso, com estruturas de proteção e monitoramento constante por equipes de segurança e jardineiros.

Mais preocupante ainda é a classificação da Wittmackia aurantiolilacina como “criticamente ameaçada de extinção” logo após sua descrição formal. Mesmo estando localizada em um parque nacional, a vasta extensão do Parque Nacional do Alto Cariri dificulta significativamente a fiscalização, expondo a espécie a impactos severos. Entre as ameaças apontadas por Rezende estão os incêndios florestais, o desmatamento contínuo, a expansão de lavouras de cacau e café, além das projeções de mudanças climáticas que, nas próximas décadas, deverão alterar drasticamente os ecossistemas da Mata Atlântica. Para o pesquisador, o contínuo esforço de coleta na natureza é um pilar fundamental para o conhecimento e a preservação da rica e vulnerável flora nativa brasileira.

Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br

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